Sunday, January 22, 2006

Da Mulher e da Guitarra


A mulher e a guitarra... Ambas são femininas, ambas harmonizam a vida de um homem. A mulher é como a guitarra! Ambas têm curvas que despertam o sensorial masculino. Podemos tocar as cordas de uma guitarra fazê-la produzir um som que a unifica ao homem. Podemos tocar as cordas, esticá-las e tirar da guitarra o melhor som, fazendo-a ter prazer em ser tocada. Se não as tocarmos com arte e sabedoria, ou a corda rebenta ou a guitarra desafina... é preciso dar-lhe música, dar-lhe carinho (conforme a situação!) com arte, sensibilidade e amor. Se não, nenhuma delas responde em harmonia connosco! Podemos pôr efeitos no som ou adereços na relação, mas nunca é o mesmo! Por isso a mulher e a guitarra são muito próximas, ainda que pouco se identifiquem uma com a outra...
S. Vicente, 22-01-2006

Friday, January 20, 2006

Da Mudança

Olá, meus amigos! Desta vez, vou escrever algo extremamente pessoal. Estes dias, estava a recordar os mais belos anos até agora vividos por mim... dei por mim a interrogar o meu pensamento! O diálogo (ou triálogo, depende da perspectiva...) foi mais ou menos este:
Eu: Por que razão muda-se de ser?
Pensamento: Porque a insatisfação a isso nos leva!
Sentimento Anónimo: Tem de ser! Quando a vida que temos não corresponde ao que queremos, muda-se...
E.: Hum... Sei que pode-se mudar de visual, de colegas, de carros e outras coisas, mas porquê o ser?
P.: As forças, quando usadas intensamente, quando extremadas para lá do limite, ...
S.A.: Quando a fogueira tem mais fogo que lenha, ou quando a lenha tem mais água que fogo, o fumo tudo consome...
P.: ... quando nos servimos delas para aguentar o insustentável...
S.A.: Quando as cordas da guitarra são esticadas para lá do razoável não há óleos que as mantenham estimadas, tem que se cortar um pouco ou mudá-las...
E.: Quando o quê? Não percebo!
P.: Tem calma!!! Posso continuar? Quando acontece o que estava a referir, as forças precisam de se reestruturar. Têm de descansar, porque apesar de serem forças não são ilimitadas!
E.: Fiquei sem elas?
P.: Não ficaste sem elas. Estão aí dentro do teu coração! A paixão que entregas às tuas ambições é enorme.
S.A.: Quanto maior a ilusão, maior a desilusão...
E.: Isso é um defeito?
S.A.: Defeito é o que não está feito, logo, não está "factum", não está acabado! Então, a arte é o defeito, pois nunca está acabada...
P.: É e não é! É porque, etimologicamente, defeito pode ser um eclipse! Mas pode também ser a imperfeição...
E.: Um eclipse?!
S.A.: Um eclipse tira-nos o calor da luz... mas não é eterno...
P.: Sim! Um eclipse! Estás eclipsado, não estás acabado!
E.: Ah?!
S.A.: O que seria da Terra se não soubesse o que é a noite durante o dia...
P.: Sim!!! Nunca o dia continua a ser o mesmo depois de um eclipse! Há a memória de como era antes...
E.: Acho que estou a perceber! Não mudei o ser, não estou diferente, não mudei! Estou é a carregar as forças durante o eclipse da minha personalidade! É isto, não é?
P.: Pois!!! Estás a atravessar um deserto cheio de oásis que não te matam a fome!
S.A.: "Não nos contentemos com os oásis que encontramos enquanto atravessamos os nossos desertos, porque, se os contornarmos, chegaremos mais velozmente às montanhas, aos rios, encontraremos os quatros elementos em pura harmonia, conjugando-se sabiamente num quinto: a felicidade."
E.: Então isto não é definitivo? É um halo, um buraco negro, um deserto que tenho necessariamente de atravessar?
P.: Exactamente!!! Estás quase a chegar ao fim dessa torturosa travessia!!! Não pares agora!!!
E.: Claro que não vou parar! Parar é morrer...
S.A.: Um gajo tem é de se mexer!!!
P.: Melhores dias virão! Há que saber esperar...
S.A.: O valor da espera é inqualificável! A espera conduz ao desespero... à angústia...
P.: ...esperar pelo momento que vale a pena esperar!
E.: Que momento é esse?!
P.: Esse é o momento em que tens a consciênca dele próprio! Em que conheces o passado, o presente e és livre para escolher o futuro...
S.A.: Vou-me embora! Estou com náuseas...
P.: Finalmente saberás o que fazer, pensar ou dizer! Saberás o que significam os verbos dizer, pensar ou fazer!
S.A.: Fui!!!
E.: Então vou continuar à espera, deixar o que tem de suceder... suceder! Enfim! Estou farto de sentimentos anónimos... Foi um prazer conversar contigo! Agora, vou para a realidade!
Bom, meus amigos, foi mais ou menos assim a conversa... embora houvesse sempre um sentimento que não identifico a remoer a minha consciência! E, por fim, tenho que prevenir-vos: Atenção! Este texto é extremamente pessoal! Quem não me conhece que se cale! Até já...
S. Vicente, 20-01-2006

Sunday, January 08, 2006

Hoc requiem volo

Um dia hei-de morrer. Um dia o sopro cessará para sempre. Pois é! Quando morrer, quero que tudo seja diferente! Ao meu corpo pode ser feito tudo o que quiserem, pois já não precisarei dele. Podem pendurar-me num poste com uma corda e colocar uma placa a dizer "ele está assim porque quis!", retalhem-me, queimem-me, reduzam-me a cinzas! Se me fizerem um cortejo, façam-no, mas toquem melodias vibrantes com guitarras distorcidas e percussões violentas, mas sem vozes. Aumentem gradualmente o som, a potência, a intensidade da música! Quero que os outros mortos se levantem e vejam o cortejo a chegar! Quero que seja diferente! Hoc requiem volo...

Funchal, 08-01-2006

Friday, January 06, 2006

Purificação

Entrei pela porta
da tua casa, branca
por fora e negra
por dentro.
A face rosada do teu rosto
reflectia na janela.
Senti calor,
recebi a luz, tive medo
e
voltei à rua.
Rastejei.
E quando voltei
a ver a janela da tua casa,
tu disseste: "eu sou a porta".

Barcelos, Junho de 2004