Wednesday, November 30, 2005

Manifesto Anti-Saudade


Mais uma vez Portugal. Um país incrivelmente pacato, saudoso da sua grandeza de outrora, dos gloriosos tempos dos Descobrimentos, da coragem de Viriato… de ser ALGUÉM! Fomos um país reconhecido internacionalmente quando nos impúnhamos, quando mostrávamos ao mundo que éramos audazes, corajosos, inteligentes.
Digam lá se não concordam: Portugal só voltará a ser alguém quando fizer guerra com alguém! Guerra cultural, ideológica, social, não a das armas, tanto em voga nos dias que correm!
Somos a pátria do Damásio, do Camões, do Pessoa, do Herberto Helder, do Eça, do Cristiano Ronaldo, do Figo, do Viriato, de todos nós!
Já é tempo de matar a saudade anciã que nos tolhe os movimentos! Vivamos com ela e não para ela! Orgulhemo-nos da pequena grande nação que somos e do que podemos vir a ser!

Funchal 30-11-2005

Tuesday, November 29, 2005

Portugal Português

Ontem, entrei num café. Numas mesas, conversava-se de futebol, noutras de futebol, noutras de nada e, noutras, de nada se conversava. Acostei-me a um canto e observei esta "família". Entrou uma bela mulher que sintonizou todos os loquentes (ou exloquentes, ou melhor, desloquentes, ou, talvez ainda, inloquentes). A sua presença foi o suficiente para caírem copos, haver tropeções evitáveis, um corajoso ou despeitoso: "Ó boa!"
Não havendo resposta da antedita mulher e cansando-se esta dos instintos animais descontrolados, retirou-se elegantemente, levando consigo toda a respectiva pulcritude.
Voltaram ao mesmo. Uns diziam que a referida "fémea" estava louca por eles, outros diziam: "Era mesmo boa!". Palavra puxa palavra e garganta puxa garrafa, fui ficando com vontade de me retirar. À saída, voltei-me e fixei esta imagem: Quatro homens, alinhados paralelamente ao balcão, segurando cada um com a mão direita a respectiva garrafa de cerveja. Não saía o mais pequeno som das sua bocas. Todos pensavam, observavam a sua garrafa como se a estivessem a ouvir com extrema atenção.
Nessa altura pensei que durante aquelas horas vazias, a beleza de uma mulher desconhecida foi o momento mais interessante e, indubitavelmente, o momento mais sublime que vivi. Os outros? Deixei-os para talvez os voltar a encontrar sequencialmente. Que dizer ou fazer neste país?
No meio de tanta tristeza, de tantos infortúnios, uma panaceia momentânea faz-nos sentir bem, esquecendo-nos do resto!

Porto Moniz, 29/11/2005

Saturday, November 26, 2005

Eu

ball&chain

A água absorve-nos os movimentos... tira-lhes a perfeição. Será? Ou a perfeição alcança-se na liquidificação do ser? A neve prende-nos, o fogo purifica-nos? Mas qual a ordem natural dois? A alquimia que explique... se puder ou conseguir. Somos parte de um todo ou de um tudo? Somos uma gota ou procuramo-la incessantemente? Dogmas existenciais, prostituição moral? Política talvez... Mas a polis onde já vai. Ou já foi? Sejamos autocratas! Autocratas benevolentes! Não nos contentemos com os oásis que encontramos enquanto atravessamos os nossos desertos, porque se os contornarmos, chegaremos mais velozmente às montanhas, aos rios, encontraremos os quatros elementos em pura harmonia, conjugando-se sabiamente num quinto: a felicidade. Transmutação alquímica é o que todos almejamos, quer queiramos quer não!

Santa Cruz, 12-11-2005

Distância da Existência

Neve…
Envolves-me, abraças-me,
Misturas-te comigo numa cumplicidade em que és quem mais ordena!
Tornas-me frio, gelado,
Os meus movimentos são determinados por ti!
Ah…
Que saudades que tenho de ti, fogo!
Do teu calor,
Da alegria que insistias em manter-me.
As injecções de vida que me davas…
Estranho halo em que me manténs, ó Neve!
Amo-te, mas quero ver-te à distância para te admirar…
Liquidificação é o que desejo e necessito…


(Prazeres, 05-11-2005)