Monday, November 04, 2013

Sensação Perdida












Sinto...

o que já toquei e não amei...
o que já vi e não apreciei...
o que já toquei e não amei...
o que já provei e não degustei...
o aroma que insiste em permanecer na memória!

Memórias...
de um tempo distante...
de um passado ardente...
da noite escladante...
da vida diferente!

Desejo...
um segundo de pura sensação,
uma hora de luxuriante evasão,
um dia de doce emoção,
a panaceia da tentação...

Tuesday, June 08, 2010

Do sexo...

Vi eu, senti, experimentei, vivi! Como tu e como todos... Senti que o amor englobava o sexo, senti que o sexo englobava o amor e percebi que o sexo engloba o sexo. Oh yeah!!!

Sunday, May 16, 2010

Verdade da Mentira


Verdade.
Escondida entre egoísmo leviandade
Pelo mais solene acto de altruísta covardia.
Com ela me cruzo em cegos passos da idade,
Não sentindo as confortáveis lanças do areal...

Verdade.
No areal da existência, pintou-se um grão!
Pelo vento exposto e enterrado pela chuva,
Iluminado pelas ondas e deixado em relevo no chão.
Na força do tempo, a verdade é um grão de areia pintado!
Funchal, 11-05-2010

Tuesday, February 19, 2008

Back from the grave...

Estamos cá para nascer e morrer! Viver? Para alguns, concerteza! Para aqueles que procuram deixar uma marca, ser diferentes, arriscando! O risco é por si só algo que pensamento da maioria censura da sua existência... infelizmente! Andar na corda-bamba não é para todos! Não é, porque se cai, porque se sofre, porque se arrisca a ficar lúcido! Não é para todos.... a lucidez! É nua e crua! Verdadeira e implacável! Mas hei-de manter-me assim: lúcido! Chamem-me o que quiserem, Tentem apunhalar-me pelas costas e reparem nas cicatrizes ao fazê-lo! Olhem bem para elas, porque alguém já ousou fazer a mesma cobardia no passado! Shoot me again! I ain't dead yet!

Sunday, October 14, 2007

That's it!

Whatever it was... it was...
Call me what you will!!!

Sunday, July 01, 2007

Friendship For All...

Durante as últimas semanas, um dilema apoderou-se de mim. Daqueles que não faz sentido existirem para a maioria das pessoas, mas que para mim faz! Dia 28 de Junho, Superbock SuperRock, Metallica ao vivo! Até aqui nada de mais! Quem sabe da minha adoração pelos Metallica sabe também que tudo faço para ver todo e qualquer concerto deles em Portugal! Vi-os em 93 em Alvalade, em 96 no Restelo, em 99 no Jamor e em 2004 no Rock in Rio! Agora queria vê-los também!!! Mas o sentido de responsabilidade apoderou-se de mim! Sou director de turma e não podia adiantar nem atrasar as burocracias inerentes ou a reunião de avaliação final! Damn it! No dia 28 à tarde, telefonaram-me uns amigos, companheiros de vários concertos e festivais: "A que horas chegas?", perguntaram... Lá expliquei que seria uma tremenda irresponsabilidade se deixasse tudo nesta altura do ano lectivo para ir.
Percebendo a minha situação, lá foram telefonando durante o concerto para que eu pudesse ouvir ao vivo clássicos como Creeping Death, The Unforgiven, Master of Puppets, ...And Justice For All, Nothing Else Matters, Sad But True, The Memory Remains ou Enter Sandman! E iam dizendo: "Esta é para ti!!!" Deu para minimizar a minha não ida ao concerto! É bom sentir que há pessoas assim! Amigos que se preocupam com os gostos dos outros! Que têm gestos assim! São pessoas raras nos dias que correm... Fiquei contente! Muito mesmo! Obrigado Tozé e Luís! Não esquecerei o vosso gesto! Cheers!

Monday, June 04, 2007

5 manias...

Não sou a favor deste tipo de actividades... Nada mesmo... Até porque não gosto nada de falar de mim denotativamente... Mas como fui intimado a exercitar o autocriticismo, here I go... JJ, a culpa é tua!!!! LOL!
“Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do “recrutamento”. Ademais, cada participante deve reproduzir este “regulamento” no seu blogue.”
1 - Mania de não desistir.
Pois é! Tenho sempre aquele pensamente vou conseguir!!! E não me contento com meia vitória! Insisto, sempre, em concretizar os meus objectivos. Muitas vezes contra ventos e marés desfavoráveis... Que dizer? Sou teimoso, a minha maior qualidade e o meu maior defeito. Sou um guerreiro.
2 - Mania da curiosidade.
Não resisto a aprender coisas novas, a conhecer novas pessoas. Se a curiosidade matasse, já estaria enterrado há muito tempo!
3 - Mania de viajar.
Alimento um sonho: conhecer o mundo inteiro, mas viajo sempre que posso.
4 - Mania da pressão.
Sou daquelas pessoas que trabalha melhor sobre pressão. Muitas vezes, espero até timing ser mais reduzido para trabalhar. So what? lol
5 - Mania de sonhar.
Quem me conhece, sabe bem que sou um sonhador. Pugno pela realização dos meus sonhos e detesto quando tenho de parar de sonhar!!
Pronto. Já está! Acho que é isto...

Saturday, June 02, 2007

Paradoxo

Estou bem e estou mal,
Não há sensação igual...
Quero ser e não quero ter,
Querendo ter sem ser...

Rasguemos a emoção!!!
Fujámos à oração!
Bem para um lado,
Mal para um lado!

Neutro?
Não!
Então?

No meio está a virtude?
Não! Só a quietude!
Quê?

Pureza? Só na emoção...

Águas de Milo...

Águas...
Limam pedras e diamantes...
Resfrescam-nos por instantes...
Momentos de um banho, na praia, à chuva.
Águas...
Envolvem teus olhos quando choras,
Humedecem os meus quando demoras,
Abrilhantam teus lábios antes de um beijo...
Envolvem nossas línguas numa doce sinfonia.
Aguas...
Quando os nossos lábios se unem!
Quando os nossos corpos se invertem...
Quando nos consumimos invertidos,
Quando meus lábios tocam os teus
E os teus nao tocam os meus...
Num perfeito encaixe de seis rosas e nove espinhos!
Águas...
Quentes quando estou dentro de ti...
Como-te! Comes-me! Ah!
Com mais força! Uh!
Mais rápido! Ah! Uh!
Ah... uh... ah... ah... uh... ah...
Águas...
Ao mudarmos de posição sem querermos parar...
Ao voltarmos ao ritmo dançante da líbido...
Ao agarrar os teus cabelos...
Ao puxares-me para dentro de ti...
Intensamente... Águas...
Vens-te... Venho-me...
E a água envolve-nos tranquilamente...

Sunday, December 10, 2006

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio

Wednesday, November 29, 2006

Silent note...

Os sabidos falam por experiência...
Os sábios, por experiência, ficam calados...

Da Usurpação

Uma palavra, um pensamento, um desejo, uma fixação...
Sequencialmente...
Um agrupamento de letras insignificantes...
Rasgadas foneticamente em sílabas...
Palavras.
Ama-se o conceito,
Rejeita-se a realidade.

Enleva-se a consciência à quase demência!

Cai-se na tentação e cede-se a um desejo!
Revela-se o imo do ser!
Esvai-se em lúcida angústia!Sente-se o oposto do que se é!
Crê-se na incomensurabilidade do desejo e da acção!
Escravos da fixação!
Reduzem-se à narcísica arte de olhar o próprio reflexo...

S. Vicente, 29-11-2006

Tuesday, October 24, 2006

Metallica- Welcome home (Sanitarium) music video

Welcome Home (Sanitarium)

Friday, October 06, 2006

Pensamento Fluídico


Tudo flui... Tudo Flui. Tudo Flui!
Sou parado na rua por desconhecidos, atormento-me, interrogo-me... e tudo flui...
Vou na rua acompanhado de uma bela mulher, ouço um gemido feminino de índole sexual vindo do interior de um edifício, interrogo-me... e tudo flui...
Sou multado por uma infracção, revolto-me, interrogo-me... e tudo flui...
Enjaulam-me, enraiveço-me, discuto, interrogo-me... e tudo flui...
Matam-me, petrifico-me e não me interrogo... e tudo flui...
Para quê tanta interrogação se tudo flui de uma forma incomensuravelmente implacável?

"Tudo flui e nada permanece" Heráclito
Funchal, 06-10-2006

Saturday, May 20, 2006

Do Silêncio


Silêncio... Por quê falar? Por quê agir? Por quê? Para quê? Por quê banalizar a palavra quando não há qualquer razão para a usar? Será melhor observar? Ligar o piloto automático e responder quando necessário? Intervir para falar e ninguém ouvir?
Quem está constantemente calado é atributado(a) de chato, suspeito, desinteressado, etc., etc.. Eh, pá! Teremos de ser palhaços e chamar a atenção só por uma questão de heteroconceito? Não será melhor intervir quando necessário ou pertinente?
Há gente, gentinha e gentelha, que precisa de perceber que quando algumas pessoas não falam, não é por falta de opção, mas por opção!!! Para quê falar por falar? Um dos grandes problemas da constantemente criticada mentalidade mesquinha portuguesa é precisamente o falajar constante!
É preciso falar, mas falar mesmo!!!! Deixemo-nos de tretas triviais!!! Aprende-se mais a ouvir do que a falar...
S. Vicente, 20-05-2006

Thursday, May 18, 2006

Do Amor (Encore)

Sinto-me na obrigação de fazer aqui uma espécie de adenda ao texto Do Amor. Isto porque parece-me não ter sido bem interpretado em certos aspectos.
Em primeiro lugar, não se tratam de citações dos Ornatos no final, mas sim citações de alguém com quem costumo conversar (concerteza basear-se-á nos ditos).
Segundo, o amor não é apenas uma história!!!! Se assim fosse, estaríamos a falar de estórias, o que não é o caso... É uma ironia e não uma afirmação.
Terceiro, o ideal é sentir... se assim não fosse, nunca de amor trataria este texto!!! E é para pensar também...
Quarto, não é de paixão que se trata. A tal que é exuberante e dolorosa! Não é isso! É, sim, o amor eros e ágape. Não apenas eros nem apenas ágape!
Concluindo, meus amigos, não podia ficar calado! É de amor que se trata e quem acha que o amor não inclui sofrimento, não o conhece! É a construção e não apenas a vivência!

Saturday, April 01, 2006

Orgasmatron

A uma devagarosa mulher com cinco dedos potentes
apontados
ao risco no peito por onde corre a luz,
e o sobressalta, e os outros cinco dedos
contrarespiração e voz compacta.
O tamanho do ar traz então pelos crivos
de dentro para fora os elementos.
Coando a espessura da palavra,
aferindo-lhe a força através de abdómen e diafragma,
os pulmões, os brônquios, traqueia, a glote,
palato, e dentes, língua,
o côncavo da boca.
Essa palavra encharcada em baba, que devia ser um canto,
uma ventania do corpo.
E no peito estremece o risco de água.
A uma devagarosa mulher no mundo.
in Do Mundo, Herberto Helder

Não me resta muito para dizer sobre este exímio poema depois de tanto ter dito sobre o mesmo em investigações literárias que fiz! Apenas uma questão resta: é ou não a perfeita descrição do orgasmo de uma mulher?

Friday, March 10, 2006

Do Amor

Amor... O que é? Amar... o que é? Será possível amar duas vezes? E quem já amou duas? Será possível amar novamente? O amor acontece inúmeras vezes. É como uma semente que se deita na terra à espera que germine, que cresça. Mas nem sempre o terreno é fértil ou nem sempre acertamos na época adequada. O amor acontece constante e continuamente. O grande obstáculo é a sincronização. É que há quase sempre uma terrível dessincronização (ou assincronização) relativamente ao acontecer do amor entre duas pessoas.
Ama-se uma pessoa, com todas as letras, com toda a dedicação... sofre-se com todas as letras (maiúsculas) também! Porquê? Uma ama, outra deixa-se levar... Ou ama-se porque de tal se necessita, impulso totalmente desmesurado, envolto num egoísmo subtil, para não dizer hipócrita!
Ama-se e não se é correspondido para depois não corresponder ao amor que alguém sente por nós! Ou não se conhece o amor... Ou não se pretende o amor quando nos é oferecido...
Enfim, mas amar... é difícil! Difícil, porque amar é saber deixar alguém amar... é compreender que quando alguém nos magoa é por bem... complementar o inconjugável e não nos apercebermos disso... Sucintamente, amar é descobrir, é uma aventura, é dançar na corda-bamba ou em areias movediças!
Concluindo, o amor é apenas uma história... Uma história que necessita de ser escrita por duas pessoas destemidas o suficiente. Duas pessoas dispostas a arriscar na incerteza de um halo! Um halo branco, purificativo... Pois, como diz alguém que costumo ouvir: amar é bom quando há em algum de nós alguma solidão... ou o amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cor... (nota bene: a mistura de todas as cores resulta em branco!). Tirem as vossas ilações...
S. Vicente, 10-02-2006

Thursday, February 02, 2006

Da Consciência


Há dias em fazemos coisas, temos comportamentos diferentes dos habituais... Há dias em que a nossa vontade impele-nos a tomar esta ou aquela atitude, dizer isto ou aquilo a esta ou àquela pessoa! Há dias em que o branco parece vermelho e o verde é apenas uma utopia... São dias sui generis, dias em que o que fazemos, dizemos ou pensamos não se projectam no nosso paradigma existencial. Ou melhor, o nosso paradigma existencial não se projecta neles! Nesses dias, cometemos loucuras, dizemos frases que são irreconhecíveis para quem ouve e nos conhece, pensamos para lá dos limites... sumamente, elevamo-nos a uma condição que se poderia classificar de contra-autonatura...
Será que nos sentimos bem depois? Será que angustiamos? Cada um terá certamente a sua resposta, cuja responsabilidade pelo conteúdo é de cada um. Há um sentimento que tem tanto de óptimo como de terrível, que nos motiva a retomar os dias e os pensamentos sui generis ou a remoer neles em espiral... Bendita ou maldita consciência, que nos destrói ou aquece o coração! Há dias e dias, há pensamentos e pensamentos, há atitudes e atitudes... há conciências e há consciências! É sem dúvida poderoso o poder que um cérebro consegue ter sobre a totalidade de um corpo... Simplesmente... fantástico...
S. Vicente, 02-02-2006

Sunday, January 22, 2006

Da Mulher e da Guitarra


A mulher e a guitarra... Ambas são femininas, ambas harmonizam a vida de um homem. A mulher é como a guitarra! Ambas têm curvas que despertam o sensorial masculino. Podemos tocar as cordas de uma guitarra fazê-la produzir um som que a unifica ao homem. Podemos tocar as cordas, esticá-las e tirar da guitarra o melhor som, fazendo-a ter prazer em ser tocada. Se não as tocarmos com arte e sabedoria, ou a corda rebenta ou a guitarra desafina... é preciso dar-lhe música, dar-lhe carinho (conforme a situação!) com arte, sensibilidade e amor. Se não, nenhuma delas responde em harmonia connosco! Podemos pôr efeitos no som ou adereços na relação, mas nunca é o mesmo! Por isso a mulher e a guitarra são muito próximas, ainda que pouco se identifiquem uma com a outra...
S. Vicente, 22-01-2006

Friday, January 20, 2006

Da Mudança

Olá, meus amigos! Desta vez, vou escrever algo extremamente pessoal. Estes dias, estava a recordar os mais belos anos até agora vividos por mim... dei por mim a interrogar o meu pensamento! O diálogo (ou triálogo, depende da perspectiva...) foi mais ou menos este:
Eu: Por que razão muda-se de ser?
Pensamento: Porque a insatisfação a isso nos leva!
Sentimento Anónimo: Tem de ser! Quando a vida que temos não corresponde ao que queremos, muda-se...
E.: Hum... Sei que pode-se mudar de visual, de colegas, de carros e outras coisas, mas porquê o ser?
P.: As forças, quando usadas intensamente, quando extremadas para lá do limite, ...
S.A.: Quando a fogueira tem mais fogo que lenha, ou quando a lenha tem mais água que fogo, o fumo tudo consome...
P.: ... quando nos servimos delas para aguentar o insustentável...
S.A.: Quando as cordas da guitarra são esticadas para lá do razoável não há óleos que as mantenham estimadas, tem que se cortar um pouco ou mudá-las...
E.: Quando o quê? Não percebo!
P.: Tem calma!!! Posso continuar? Quando acontece o que estava a referir, as forças precisam de se reestruturar. Têm de descansar, porque apesar de serem forças não são ilimitadas!
E.: Fiquei sem elas?
P.: Não ficaste sem elas. Estão aí dentro do teu coração! A paixão que entregas às tuas ambições é enorme.
S.A.: Quanto maior a ilusão, maior a desilusão...
E.: Isso é um defeito?
S.A.: Defeito é o que não está feito, logo, não está "factum", não está acabado! Então, a arte é o defeito, pois nunca está acabada...
P.: É e não é! É porque, etimologicamente, defeito pode ser um eclipse! Mas pode também ser a imperfeição...
E.: Um eclipse?!
S.A.: Um eclipse tira-nos o calor da luz... mas não é eterno...
P.: Sim! Um eclipse! Estás eclipsado, não estás acabado!
E.: Ah?!
S.A.: O que seria da Terra se não soubesse o que é a noite durante o dia...
P.: Sim!!! Nunca o dia continua a ser o mesmo depois de um eclipse! Há a memória de como era antes...
E.: Acho que estou a perceber! Não mudei o ser, não estou diferente, não mudei! Estou é a carregar as forças durante o eclipse da minha personalidade! É isto, não é?
P.: Pois!!! Estás a atravessar um deserto cheio de oásis que não te matam a fome!
S.A.: "Não nos contentemos com os oásis que encontramos enquanto atravessamos os nossos desertos, porque, se os contornarmos, chegaremos mais velozmente às montanhas, aos rios, encontraremos os quatros elementos em pura harmonia, conjugando-se sabiamente num quinto: a felicidade."
E.: Então isto não é definitivo? É um halo, um buraco negro, um deserto que tenho necessariamente de atravessar?
P.: Exactamente!!! Estás quase a chegar ao fim dessa torturosa travessia!!! Não pares agora!!!
E.: Claro que não vou parar! Parar é morrer...
S.A.: Um gajo tem é de se mexer!!!
P.: Melhores dias virão! Há que saber esperar...
S.A.: O valor da espera é inqualificável! A espera conduz ao desespero... à angústia...
P.: ...esperar pelo momento que vale a pena esperar!
E.: Que momento é esse?!
P.: Esse é o momento em que tens a consciênca dele próprio! Em que conheces o passado, o presente e és livre para escolher o futuro...
S.A.: Vou-me embora! Estou com náuseas...
P.: Finalmente saberás o que fazer, pensar ou dizer! Saberás o que significam os verbos dizer, pensar ou fazer!
S.A.: Fui!!!
E.: Então vou continuar à espera, deixar o que tem de suceder... suceder! Enfim! Estou farto de sentimentos anónimos... Foi um prazer conversar contigo! Agora, vou para a realidade!
Bom, meus amigos, foi mais ou menos assim a conversa... embora houvesse sempre um sentimento que não identifico a remoer a minha consciência! E, por fim, tenho que prevenir-vos: Atenção! Este texto é extremamente pessoal! Quem não me conhece que se cale! Até já...
S. Vicente, 20-01-2006

Sunday, January 08, 2006

Hoc requiem volo

Um dia hei-de morrer. Um dia o sopro cessará para sempre. Pois é! Quando morrer, quero que tudo seja diferente! Ao meu corpo pode ser feito tudo o que quiserem, pois já não precisarei dele. Podem pendurar-me num poste com uma corda e colocar uma placa a dizer "ele está assim porque quis!", retalhem-me, queimem-me, reduzam-me a cinzas! Se me fizerem um cortejo, façam-no, mas toquem melodias vibrantes com guitarras distorcidas e percussões violentas, mas sem vozes. Aumentem gradualmente o som, a potência, a intensidade da música! Quero que os outros mortos se levantem e vejam o cortejo a chegar! Quero que seja diferente! Hoc requiem volo...

Funchal, 08-01-2006

Friday, January 06, 2006

Purificação

Entrei pela porta
da tua casa, branca
por fora e negra
por dentro.
A face rosada do teu rosto
reflectia na janela.
Senti calor,
recebi a luz, tive medo
e
voltei à rua.
Rastejei.
E quando voltei
a ver a janela da tua casa,
tu disseste: "eu sou a porta".

Barcelos, Junho de 2004